Soneto do soneto



Desata-se-me o verso no primeiro
no segundo de vento vai vestido
no terceiro de mar e marinheiro
no quarto está perdido está perdido.

Recupero-o no quinto sem sentido
no sexto deito-o à sombra de um sobreiro.
No sétimo com Dante digo: «Guido
sê tu no oitavo verso companheiro.»

Porque não espero de voltar no nono
leva-me O´Neill no décimo a um terceto
que aponte já no onze o sul e o sal.

Ao décimo segundo chega o sono.
No treze está a chave do soneto
mas nem sempre o catorze é o final.

MANUEL ALEGRE
de Poesia, Volume II (Sonetos do Obscuro Quê)
Ed. D. Quixote

voz - Cristina Paiva

sonoplastia - Fernando Ladeira

desvendado - Isabel Teles de Menezes

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