Hora de ponta
Apanhar um lugar a esta hora é uma sorte, poder olhar
pela janela e fingir que tenho imunidade diplomática,
que estou de lá do vidro com o hálito das folhas, o sabor
a hortelã e um ar fresco interrompido pela velha senhora
a quem cedo o assento e um sorriso enquanto me agradece
de nada, de ir agora em pé empurrada, de cá do vidro
a apanhar uma overdose de realidade com o bafo quente
do homem gordo na minha orelha, com a mão livre
apertada contra o peito contra o visco da hora apinhada
na minha pele pública, na minha pele de todos.
No banco em frente uma mulher afaga a neta com o sorriso
doce e cansado, os olhos brilhantes; a candura intacta
toma-me toda como se eu fosse um anjo
descendo à terra com um corpo real para que a minha pele
receba a dádiva da tua, aceite os cheiros de um dia de trabalho,
o calor excessivo, a proximidade insustentável e leia no teu rosto
cada mandamento nos solavancos que nos atiram uns para
os outros. No teu rosto à hora de ponta aprendo a compaixão
até sair na próxima paragem com um suspiro de alívio.
ROSA ALICE BRANCO
366 poemas que falam de amor
Org. Vasco Graça Moura
Ed. Quetzal
voz - Cristina Paiva
música - Max Richter
sonoplastia - Fernando Ladeira
desvendado - Helena Ramos
Autor
pepQ,
Rosa Alice Branco
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Rosa Alice Branco
ResponderEliminar(música de Max Richter :-), mas diz que adivinhar a música ainda não dá pontos)
ResponderEliminarOlá, olá!
ResponderEliminarParabéns! Ninguém te apanha, já vais em 24 pontos.
E, não, não dá pontos adivinhar a música :)
Beijos e parabéns mais uma vez.
Cristina
... o pior são os das semanas anteriores!
ResponderEliminaruma boa semana! boas viagens e bom trabalho! contem connosco na estreia!