Canção de maltês
Bati à porta do monte porque sou um deserdado.
E chovia nessa noite como se o céu fosse um mar
entornando-se na terra.
- Quem abre a porta a desoras morando num descampado?
E continha o rafeiro que ladrava, na ponta do meu cajado.
Mas veio abri-la o lavrador com a espingarda na mão,
e pôs um olhar altivo tão no fundo dos meus olhos
que as minha primeiras falas foram assim naturais:
- guarde a espingarda, senhor, sou um homem sem trabalho.
Fui secar-me à lareira.
E a filha do lavrador, que era uma moça perfeita,
ficou a olhar de gosto a minha manta rasgada
e o meu fato de maltês.
E com licença do pai, estendeu-me um canto de pão
com azeitonas maduras.
Não aceitei como esmola; antes roubar que pedir:
paguei com a melhor história da minha vida sem rumo.
Foi uma paga de rei.
Prá filha do lavrador, tinha muito mais valia
a história que lhe contei que o trigo do seu celeiro,
pois estava a olhar de gosto a minha manta rasgada.
E quando o fogo na lareira ia aos poucos esmorecendo
agradeci como é de uso; despedi-me até mais ver
e fui dormir pró palheiro que é palácio de maltês.
Despedi-me até mais ver que a gente da minha raça
mal o Sol tenta nascer ergue-se e parte pelo mundo
sem se lembrar de ninguém.
Despedi-me até mais ver que a gente da minha raça
mal o Sol tenta nascer ergue-se e parte pelo mundo
sem se lembrar de ninguém.
Despedi-me até mais ver que a gente da minha raça
mal o Sol tenta nascer ergue-se e parte pelo mundo
sem se lembrar de ninguém.
Assim me deitei ao canto a esperar pela manhã.
MANUEL DA FONSECA
Obra Poética
voz - Cristina Paiva
música - Pascal Comelade
sonoplastia - Fernando Ladeira
Bom dia,
ResponderEliminarGosto concerteza Lurdes. Obrigado por nos presentear com tantos bons apontamentos. Posso retribuir comentando com gosto o que nos vai proporcionando.
Obrigado,
Adelaide BAranito