A luz prodigiosa (excerto)
(...) abria um dos seus livros e lia umas quantas páginas. Continuava a ser incapaz de as entender ou de tirar partido delas, mas não me importava, porque não era isso que procurava, mas a estimulante sensação que a leitura produzia em mim: imaginava que avançávamos os dois contra a corrente num pequeno barco a remos. Desde há muito tempo que ele não podia remar e que só dependíamos de mim para seguir adiante e impedir que a corrente nos arrastasse. Mas às vezes as minhas forças fraquejavam e então ele, da sua posição na popa do barco, incutia-me a única força de que era capaz: fazia-me ler o texto de alguma das suas páginas – ou sussurava-o ele próprio na minha imaginação, a partir do silêncio das letras impressas – e produzia-se o milagroso efeito que me permitia continuar a remar, aguentando pelos dois a luta contra a corrente. (...)
FERNANDO MARÍAS
A luz prodigiosa
tradução - Helena Serrano
voz - Cristina Paiva
música - Pascal Comelade
sonoplastia - Fernando Ladeira
( Bom que passaste pelo la double vie de veronique, Cristina... saudades boas, vossas, que vou matando, com a tua voz )
ResponderEliminarbeijo