A Pátria, de olhos sem fundo...




A Pátria, de olhos sem fundo como dois buracos,
vela o teu corpo e põe-te uma promessa nas mãos frias ...
- tu que foste a força dos fracos,
Tu que foste maior que todas as poesias.
Tu, puro e oculto como as cisternas de água,
tu que eras presente e invisível como a aragem,
tu que continuas a ligar-nos pela mágoa
como sempre o fizeste pela coragem
...

Largos versos irrompem do teu silêncio de granito,
e tu vives inteiro em cada grito,
tu que foste maior que todas as poesias

SIDÓNIO MURALHA
Companheira dos homens


voz: Cristina Paiva

música: Durutti Column

sonoplastia: Fernando Ladeira

Oiro




O dia acende
o teu olhar
e não te deixa
adormecer
sem que essa luz
seja cravada
pelo punhal
do sol
na eternidade,
halo breve
e doirado
como o poema.

CARLOS DE OLIVEIRA
Trabalho Poético


voz: Cristina Paiva

música: Bleeding Heart Narrative

sonoplastia: Fernando Ladeira

O poeta




O poeta tem os seus dias
contados,
como todos os homens; mas quanto,
quanto mais variados!

As horas do dia e as quatro estações,
um tanto menos de sol ou mais de vento,
são o devaneio, o acompanhamento
sempre diverso para suas paixões,
sempre as mesmas; e o tempo que faz,
ao levantar-se, eis o grande acontecimento
do dia, sua alegria assim que desperta.
Nada como as luzes contrárias o alegra,
nada como os belos dias
movimentados,
e em longas histórias multidões imersas,
onde o azul e a tempestade duram pouco,
onde se alternam searas de infortúnio
e de vitória.
Com um rubro crepúsculo se entusiasma;
e com as nuvens muda de cor,
ainda que lhe não mude a alma.
O poeta tem os seus dias
contados,
como todos os homens; mas quanto,
quanto mais abençoados!

UMBERTO SABA
Revista Colóquio Letras

TraduçãO: David Mourão-Ferreira

música: Eberhard Weber

Esteiros (excerto)




Linda música – exclamou Gaitinhas. (...) Fazia-o esquecer a doença da mãe e os sapatos rotos. O cavalo galopava no espaço, através das estrelas, e ele levava um sorriso nos lábios (...)
Gineto fizera-se Tom Mix em pensamento e cravara esporas no cavalo, a que chamou Malacara. Dentes cerrados e o lenço ondulando ao vento, cingia nos braços a pálida Rosete, arrebatada aos bandidos. O cavalo saltava muros e esteiros, sem parar. E o Malesso, o Saguí e todos os companheiros do telhaI acenavam ao longe, muito ao longe ...
O carrossel parou. Mas a alegria da viagem ficou ainda a bailar nos olhos de Gineto e nos lábios do Gaitinhas.

SOEIRO PEREIRA GOMES
Obra Completa


voz: Cristina Paiva

música: Durutti Collumn

sonoplastia: Fernando Ladeira