Segundo




Quando foi que demorei os olhos sobre os seios nascendo debaixo das blusas, das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?...
... Como nasci poeta devia ter sido muito antes que as mães se apercebessem disso e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, não sei ao certo.

Mas a história dos peitos, debaixo das blusas, foi um grande mistério. Tão grande que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.

E desafiava, sem razão aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez, de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tão certeira
que levou o chapéu do Senhor Administrador!
Em toda a vila se falou logo num caso de política;
o senhor Administrador mandou vir da cidade uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o céu…

Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!

MANUEL DA FONSECA
Obra poética


voz - Cristina Paiva

música - Pascal Comelade

sonoplastia - Fernando Ladeira